segunda-feira, 21 de maio de 2007

Bocejo matinal



As vozes no meu peito me aborrecem.
Sentir-se vago
é caminhar contra o vento.
O palpitar de minha saliva
pede cama, repouso e sorte.
Talvez tope comigo,
minha figura refletida no espelho.
E farei-me sorrir, cantar
e voar pelos céus. O céu da tua boca.
Varrer-lhe os sonhos, a castidade
e as dores.
Sentir-me bem pra te dar um abraço.
Sonhar e ver teus passos,
os passos pisados há pouco na grama.
E, se por infortúnio, roubarem-lhe os sonhos,
lembre que cedo beijei-lhe a testa e
e enxuguei suas lágrimas no meu colo.
Espero que o aceno que me enviastes
seja o único.
Espero que o beijo não finde
e o braço se curve com o meu.
Quero sentir-me tolo,
quero voar e contar fábulas
ao pé-de-ouvido.
Quero ser pequenino e
brincar de gente grande.
Meus espasmos são saudades
estendidas no mar de flores vermelhas.
Castos olhos pagãos
me assassinam e calam.
Seu fortuito é deixar-me só.
Quero que o relógio salte da parede
e trucide as horas.
Estúpidas, apenas.
Esqueçamos as portas
e brindemos à Lua.
E sinta que estou inteiramente só.
à espera de um beijo seu.
Estou calvo, mudo e desprotegido.
Minhas desconfianças se confirmam.
E o beija-flor visita teu território
em busca de néctar, sal e suor.
Que nosso virgem bocejar prolongue
e que nossas pernas atem-se
numa música de Bach.
Que a partitura torne viva
no teu sorriso.
E que cesse o pranto recorrente.

: Jander Alcântara

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