segunda-feira, 21 de maio de 2007

TERESA


TERESA
Nunca esquecerei seus passos
Largos, tristes, cansados...
Seus longos olhos enfadonhos,
Sua boca pálida.
Pálida também as mãos, o ser...
Era tão só, vagava, gritava e não a intervinham.
Flores! Ela saiu pra comprar flores!
E os seus passos apagavam à medida que o céu clareava.
Sua sombra sumia, seus olhos sumiam... A fala... Sumia.
Suas roupas esvoaçantes... Seus cabelos num tom pastel
Refletiam a dor contida no seio.
A dor
De
Ser
Assim, leve, calma, dura.
Nunca lhe disseram do pesar que por ela sentem...
Nunca lhe cogitaram sua morte pela sua imensa
Insignificância.
E ainda vive.
Ainda é a mesma tola do dia anterior,
Sonha, chora, grita, canta até.
Seus passos diminuíram, sua fala calou,
Seu ventre ressecado inchou.
A boca?
Que boca?
Mandaram coser...
E pobre tola, boba que só vendo...
Permanece calada, pura até.
Puramente.
Cegamente.
Imensamente insignificante.
Os braços cruzados, a pernas atadas, a boca cosida.
E os lírios, ainda frescos, as magnólias, ainda virgens...
O chão... A mão...
Ela os quer. Quer seu perfume.
E dança, boba, leve, calada, calma, pueril até.
Teresa cansou de ser só.
Vive agora com as suas pétalas.
Lírios
Magnólias
Margaridas...
Teresa é assim,
Boba, calma, insignificante, uma criança até.

: Jander Alcântara

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