
Ouço passos vindos da direção da luz,
Sinto gotas d’água que jorram do teu seio,
Sigo calmo no semblante e no espelho.
Aguardo, distraio, ensaio os teus cantos,
Decoro tuas preces, e, com pressa, te vejo
Agora muda, abatida e parada.
Tua boca fala nexos sem contexto,
Vejo em teus olhos o luto
De um amor que nunca sentistes.
E esbravejas ao mundo nóias paradoxais
De teu ventre agora seco, mudo, cansado.
Os braços pesam, o peito pára, a boca seca.
Distante de mim te perdes e pedes,
Competes, repetes o sonho
De pedra e parafuso que insiste
Em agonizar teus pesadelos.
Os pés pesam, a fala cansa
E as mãos... Coitadas!
Agora rebolas e descolas esmolas.
Teus sonhos cansaram, teus seios secaram.
Murcha, pálida... Cadê a rainha dos carnavais?
Tuas vestes são trapos, teus sonhos são secos,
Teus cantos são ecos e gritas de dor.
Gemes, choras, cantarolas e angustias tuas lágrimas.
E a puta que habitava teu seio
Partiu.
Jaz em teus gritos a dor da
Agonia.
E a ferida em teus lábios pútridos
Incha e cala.
O sal derramado de teus olhos
Retorna, multiplica, implica, retruca.
Cansada, agora, partes pro teu posto.
Aposto que nunca esteve em teus sonhos
A mágica fascinante desgraça
Em que te tornastes.
: Jander Alcântara
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